A luz da Palavra

Palavra de Deus 2

2º DOMINGO DA PÁSCOA 

Domingo da Divina Misericórdia

27 de abril de 2025

Leituras:  At 5,12-16 / Ap 1,9-11a.12-13.17-19 / Jo 20,19-31

A fé nasce do testemunho da comunidade e não da visão pessoal

O segundo domingo pascal acentua a nova existência do cristão regenerado pelo batismo. Na 1ª leitura, esta novidade se manifesta na atuação da primeira comunidade cristã, suscitando admiração por causa de sua união e dos sinais que a acompanham. O novo povo de Deus cresce ligeiro. Com razão, o Salmo comenta: a pedra rejeitada tornou-se pedra angular! A 2ª leitura é a visão inicial do Apocalipse. No “primeiro dia da semana”, dia da ressurreição e da assembleia cristã, ele vê o Cristo glorioso, o “primeiro e o último”, o “vivo que foi morto” e que “tem as chaves da morte”, ou seja, tem a morte em seu poder. É a aparição do Cristo como Senhor do Universo. Os tempos são nele resumidos e recapitulados. No fim do livro, ele se manifestará como o renovador do Universo.

O Evangelho apresenta a comunidade da nova Aliança e sublinha a ideia de que é à volta do Ressuscitado que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. É na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo. Depois de sugerir a situação de insegurança e fragilidade que dominava a comunidade, o autor apresenta Jesus “no centro” da comunidade. Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-Se como ponto de referência, fator de unidade, a videira à volta da qual se enxertam os ramos. Ele é o centro onde todos vão beber a vida. A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança. Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava: a morte, a opressão, a hostilidade do “mundo”. E então Ele revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais de amor e doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e amorosamente presente no seu meio: Ele será sempre o Messias que ama, e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.

Em seguida, Jesus “soprou sobre eles” (lembrando o sopro criador de Gn 2,7) para transmitir aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora eles possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. Os discípulos são enviados a prolongar o oferecimento de vida que o Pai apresenta à humanidade em Jesus. Quem aceitar essa proposta de vida, será integrado na comunidade; quem a rejeitar, ficará à margem da comunidade de Jesus.

Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? João responde: na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter uma demonstração particular de Deus. Mas não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; nós O encontramos no diálogo comunitário, É só voltando ao interior da comunidade, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida que Tomé consegue fazer a experiência do Cristo vivo. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito e não seremos uma comunidade de irmãos.



CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.

Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.

Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).

Fazendo a leitura do Cartaz

O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.

A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.

Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.

A técnica da colagem  possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.

A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.