A luz da Palavra

Palavra de Deus 2

14º DOMINGO COMUM  

6 de julho de 2025

Leituras:  Is 66,10-14 / Gl 6,14-18 / Lc 10,1-12.17-20

A paz esteja nesta casa!

Hoje celebramos a certeza da presença constante e amorosa de Deus em nossa vida (1ª leitura). Revigorados por esse amor, tornamo-nos sempre mais anunciadores do Reino de Deus e, sobretudo, da paz (Evangelho), que nasce de nosso encontro profundo com Jesus Cristo crucificado e ressuscitado e da sua misericórdia (2ª leitura).

Diante da tomada de consciência e da certeza da presença constante de Deus junto ao seu povo durante a terrível experiência do exílio, o profeta Isaias convida todos os servos do Senhor a se alegrarem, porque o Senhor consolará o seu povo e porque todos se saciarão com seus atos de salvação. Entre esses atos está a construção de uma nova sociedade próspera, na qual todos terão acesso aos bens. Deus é aquele que consola o seu povo, o aconchega, o amamenta, o carrega no colo, o acaricia. Ele é aquele que concede a paz a Sião (= o povo de Deus), que lhe dá vida e o sustenta, que manifesta o seu poder em favor do povo. Somente uma cidade alicerçada no Senhor da vida é capaz de ser agraciada pela paz transbordante. Se o profeta anuncia a consolação, certamente o faz porque o povo vive uma realidade de sofrimento, de dificuldade, de desânimo. Por isso, é profunda a imagem do reflorescimento dos ossos, para indicar a renovação da vida e a certeza da ação libertadora de Deus. Isso, porém, somente será possível se o povo se deixar guiar por Ele e tiver como fundamento a justiça e a paz. Para tanto, é necessário que seus líderes sejam também servos, estejam a serviço da coletividade, promovam o bem comum e a paz, que é inspirada e sustentada pela caridade, pela experiência profunda de comunhão com o Senhor da Vida.

No Evangelho, todos são convocados para essa missão, assumindo o projeto do Pai, revelado por meio das palavras e dos gestos de Jesus Cristo. E como a mensagem deve ser levada para todas as nações, não somente para Israel, entende-se que a messe é grande, necessita de trabalhadores e é um dom de Deus. Esses trabalhadores não são meros voluntários, mas são aqueles que fizeram experiência da proximidade do Reino, por meio de Jesus Cristo, e desejam comunicá-la. A primeira característica desses missionários é a oração com o pedido a Deus para aumentar o número dos trabalhadores na messe do Senhor. Isso exige uma abertura de mentalidade, generosidade, um coração universal e a consciência de que a missão pertence a Deus, e não ao missionário. A segunda é a consciência de que a missão não é isenta de conflitos. Os enviados serão perseguidos, tendo uma vida semelhante ao do missionário Jesus, que também não foi aceito por todos. Diante das dificuldades, os missionários devem se despojar do poder, da violência, e da imposição. Outra característica é o despojamento de bens materiais, confiando totalmente em Deus e na generosidade das pessoas.

Os missionários são portadores da paz que é o sinal do Reino de Deus e da mensagem do Ressuscitado. São convocados não somente para anunciar a Boa-Nova, como também para serem testemunhas daquilo que anunciam. A mensagem da proximidade do Reino, portanto, não é mero discurso, mas um estilo de vida. E a mensagem do Reino também é Boa-Nova para os marginalizados, que são curados de suas doenças e tirados da exclusão. É uma missão de urgência, e por isso o missionário não pode se desviar do caminho nem anunciar outra mensagem a não ser aquela dada por Jesus. Mas, se a mensagem de paz for rejeitada, os missionários devem sacudir a poeira que ficou grudada nos calçados. É uma forma de indicar que ele fez a sua parte; se sua mensagem foi rejeitada, não lhe cabe realizar o julgamento, pois é Deus que julga conforme seus critérios.

Enfim, Jesus enfatiza que o fundamental não são os sinais extraordinários, como a cura de doentes, mas a pertença ao Reino de Deus e sua inscrição nele. Por isso, as comunidades e, especialmente, os missionários não devem se fixar no sucesso e no poder, mas no anúncio, na participação e na construção do Reino de Deus, de justiça e de paz.



CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.

Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.

Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).

Fazendo a leitura do Cartaz

O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.

A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.

Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.

A técnica da colagem  possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.

A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.