3º DOMINGO DA PÁSCOA
4 de maio de 2025
Leituras: At 5,27b-32.40b-41 / Ap 5,11-14 / Jo 21,1-19
É preciso pescar diferente…
O 3º Domingo pascal nos convida a refletir sobre a experiência do Ressuscitado como Aquele que está presente em sua Igreja para acompanhá-la em sua missão, alimentá-la com a Eucaristia e inspirá-la na única motivação que justifica a sua presença no mundo: o Amor verdadeiro.
Os Apóstolos haviam pescado a noite inteira, desanimados, cansados, sozinhos, e não apanharam nada. Ao amanhecer, com a chegada da “Luz”, acolhem a Palavra do Senhor e conseguem um resultado surpreendente! Reconhecem o Cristo ressuscitado e expressam a fé: “é o Senhor”. Interessante observar a sequencia em que fazem esta descoberta: primeiro o discípulo que Jesus amava, depois Pedro e, finalmente, os demais. O amor é que proporciona e sustenta a fé. O resto vem em consequência. E o importante é que Jesus, neste episódio, quer mais uma vez lembrá-los de que já os tinha convidado para outra missão: a de serem “pescadores de homens”. E então Jesus os revigora nesta missão.
A Pesca milagrosa simboliza a Missão de toda a Igreja. Ficar na “noite” é permanecer na ausência de Jesus, que é a Luz. Só a palavra do ressuscitado pode mudar a situação, porque a Ressurreição ilumina toda a existência da Comunidade e a missão que ela tem que encarar pela frente. O êxito desta Missão não depende tanto do esforço humano, mas muito mais da presença viva do Senhor Ressuscitado e da sua Palavra nessa comunidade. Agora ela não mais se divide: a rede não se rompe. É uma bela imagem da constituição da Igreja no mundo: fundada sobre a palavra de Deus e guiada por Pedro.
Aguardando os discípulos na margem, Jesus os convida a uma refeição: “Vinde comer”. Seus gestos são parecidos com os da multiplicação dos pães e dos peixes e são também os gestos da instituição da Eucaristia, na última ceia. Isto tem um profundo sentido eucarístico. Ainda hoje, todo domingo, chamados a não desistir da nossa missão de continuar o testemunho do projeto de Jesus na história e nas realidades presentes, Cristo nos convida: “Vinde comer”. E na Eucaristia, encontramos a força, o alimento para realizar a nossa Missão.
Depois de comerem, Jesus estabelece um diálogo intrigante com Pedro. Por três vezes pergunta: “Simão, tu me amas?” E por três vezes Pedro, como que apagando a tríplice traição da noite da Paixão, confessa ardentemente: “Tu sabes que te amo!” Agora ele dá uma tríplice prova de amor. E só então Jesus transmite a ele o primado sobre a Igreja nascente, isto é, a tarefa de presidir a comunidade da Nova Aliança. E deixa, assim, bem claro, que o essencial não é o exercício da autoridade, mas o amor, que se faz serviço, ao jeito de Jesus, como o fez também o nosso já saudoso Papa Francisco.
Esta é a lição da celebração de hoje: todos nós somos convidados a Pescar. Muitas vezes, “pescamos” apoiados apenas em nossas forças, confiando, como Pedro, em nossa experiência de “velho Pescador.” Diante do inevitável fracasso, vendo as “redes vazias” desanimamos, tentados a largar tudo e voltar à vidinha antiga (na família, na sociedade, na comunidade). Esquecemos que Jesus, embora esteja na “margem” (na glória do Pai), está sempre conosco todos os dias, até o fim do mundo, e deve ser o CENTRO da nossa Missão. Ele continua nos indicando onde e quando lançar as redes e, com ele, teremos a certeza de que a pesca será abundante.
Esta é a razão pela qual, na 1ª Leitura, Pedro (o “cabeça” da comunidade), proibido de dar testemunho de Jesus ressuscitado, responde apresentando um resumo do “anúncio” cristão primitivo, afirmando: “É preciso obedecer antes a Deus, do que aos homens.” E os discípulos saem do tribunal do Sinédrio, onde foram flagelados, felizes por terem sofrido pelo nome de Jesus, único pelo qual vale a pena viver, amar, sofrer e consagrar a própria vida.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.