A luz da Palavra

Palavra de Deus 2

3º DOMINGO DO ADVENTO 

14 de dezembro de 2025
Leituras:  Is 35,1-6a.10 / Tg 5,7-10 / Mt 11,2-11

Alegrai-vos! a Libertação está próxima!

Quando dirigimos pelas estradas ou pelas ruas das cidades, encontramos muitos sinais de trânsito. Seria extremamente ridículo a pessoa parar o carro em frente a um sinal verde para admirar a cor. O resultado seria uma batida. E se a pessoa parasse para examinar se a placa é de latão ou de madeira, se os símbolos ou as letras estão bem ou mal desenhados, provocaria um caos para quem vem atrás. O sinal não é para ser admirado ou discutido, mas para ser entendido e seguido. O que interessa não é a placa, mas o que ela indica; não é o milagre ou seu resultado, mas o que aquilo significa dentro da mensagem de Jesus.

No Evangelho de hoje, reaparece a figura do Batista. Ele manda seus discípulos perguntar a Jesus se Ele é mesmo o Messias esperado. A resposta de Jesus é indireta: fala dos sinais que estão acontecendo. Abrir os olhos aos cegos, soltar a língua dos mudos, abrir os ouvidos dos surdos, soltar os braços e as pernas dos entrevados, enfim, dar nova vida aos mortos é o núcleo da missão do Messias. Nós não esperamos um simples curandeiro; esperamos o Messias, que dá nova vida à multidão cega, muda, surda, inválida, morta.

Na 1ª Leitura, o povo de Deus estava no cativeiro. Os inimigos tinham vazado os olhos de alguns, outros estavam mutilados, todos desiludidos e desanimados. O profeta Isaías canta de maneira espetacular a esperança de saída do cativeiro e retorno para a própria terra. Será para nós símbolo de uma esperança maior. O caminho da volta é o deserto, tal como o caminho da escravidão do Egito até a Terra Prometida. É um novo êxodo. É Deus que vem para salvar! Se o caminho da liberdade e da vida é difícil, a certeza de que a salvação vem de Deus dá força e coragem e transforma o deserto em jardim.

O Evangelho vem concretizar esta esperança. João ouviu falar das curas, sem dúvida, e da compaixão de Jesus pelas pessoas, também pelos pecadores. A resposta de Jesus aponta para esses sinais. Ele primeiro veio salvar, libertar. As curas são sinais da solidariedade com os sofredores e do mais importante de sua missão: abrir os olhos a todos os cegos, mesmo aos que tenham olhos perfeitos; abrir os ouvidos a todos os surdos, mesmo aos que tenham ouvidos perfeitos; fazer andar e agir os inválidos, mesmo os que têm mãos, pés e pernas perfeitos; purificar todos os leprosos, tirar da exclusão social todos os “sujos” postos à margem; enfim, dar vida a todos os que vivem mortos.

Assim a ação de evangelizar os pobres constitui o principal sinal de que Jesus é o Messias esperado pela humanidade. Evangelizar não é impor a alguém um conjunto de doutrinas ou submetê-lo a enorme código de leis e regulamentos. Evangelizar é levar boa notícia, levar esperança e ânimo a quem precisa, aos pobres, aos sofredores, às vítimas deste mundo. Abrir os olhos aos cegos, os ouvidos aos surdos, a boca aos mudos, fazer os inválidos ficar de pé, com o entendimento disso como milagres ou manifestações de poder, em pouco ou nada modifica o nosso comportamento e a caminhada da humanidade. Quando essas coisas são sinais do objetivo de fazer todos se tornarem sujeitos, senhores da própria vida, já incomodam bem mais.

O reino de Deus sofre violência. Não é fácil buscá-lo. O mais difícil talvez seja desembaraçar-se do reinado do dinheiro e de tudo o que ele oferece. “Só os violentos o arrebatam”, só os fortes raptam esse reinado. Esta “violência” trata-se da força usada por João, o precursor, que preparou a vinda daquele que haveria de começar o reinado de Deus no mundo. Mais “violento” ainda foi Jesus, ao entregar-se livremente à morte de cruz a fim de rasgar os caminhos para uma humanidade nova. É essa sua “violência” e o mundo novo surgido dela que celebramos na eucaristia. Por isso, Advento não é preparação para comemorar o Natal. Advento é celebrar a chegada do Senhor e reunir forças para arrebatar o reinado de Deus.



CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.

Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.

Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).

Fazendo a leitura do Cartaz

O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.

A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.

Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.

A técnica da colagem  possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.

A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.