15º DOMINGO COMUM
13 de julho de 2025
Leituras: Dt 30,10-14 / Cl 1,15-20 / Lc 10,25-37
Amar e ser amado
A liturgia de hoje apresenta os dois aspectos fundamentais da prática cristã: o que é amar e a quem se dirige nosso amor. As duas questões fundem-se numa só compreensão: quem ama descobre logo a quem amar.
O livro mais imponente da Lei, o Deuteronômio, ensina-nos que o amor de Deus por Israel não tem explicação, mas tem consequências: Israel deve amar a Deus com todas as suas forças; deve escutar sua voz e não se afastar de suas orientações; e, quando se afasta, deve “voltar”, converter-se. Os “deuteronomistas” enfrentavam um tempo de afrouxamento em Israel, mais ou menos como nós, hoje. Mas a quem achava difíceis as orientações de Deus, respondiam: “Não é verdade. A Lei não é coisa do outro mundo, ninguém precisa procurá-la no céu ou no inferno, ela está perto de ti”. Está perto, ao alcance de quem o ama. Hoje importa redescobrir que lei e mandamentos não são coisas do passado, inimigas da liberdade moderna. O termo “lei” deveria, na realidade, ser traduzido como ensinamento, instrução. É uma sabedoria. E um bom conselho vale mais do que ouro.
O Evangelho de Lucas apresenta três exigências fundamentais do ser cristão:
1. O “grande mandamento” responde à pergunta pelo caminho da vida eterna: amar a Deus e o próximo. Defrontamo-nos com um especialista da Lei que procurava, em meio à multidão de prescrições, saber o que devia fazer para “herdar a vida eterna”, a vida da era vindoura, do reino que Deus estabeleceria no mundo para sempre. Jesus lhe pergunta o que se encontra na Lei de Moisés. O escriba responde: amar a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo. “É isso mesmo que deves fazer”, responde Jesus, mostrando novamente que não é coisa de outro mundo conquistar a vida eterna!
2. À pergunta do escriba sobre quem é seu próximo, Jesus não respondeu diretamente mas por meio de uma parábola, porque a questão não é descobrir, teoricamente, quem é e quem não é próximo. Para Jesus, o próximo não é um arbitrário “objeto de caridade”; é todo homem, desde que eu me torne próximo dele. Os judeus consideravam como “candidatos à sua solidariedade”, os membros da comunidade judaica e os estrangeiros residentes (que cooperavam com eles): a esses era preciso “amá-los como a si mesmo”. No caso dos inimigos, (samaritanos), não se devia amar. Ora, exatamente um samaritano se torna solidário com um judeu jogado à beira da estrada, depois que dois ilustres “próximos” judeus, um sacerdote e um levita, deram uma volta para não se incomodar com o compatriota assaltado. Agora é Jesus que pergunta não quem é o próximo a quem se devem fazer obras caritativas, mas quem é o próximo do homem que foi assaltado. A inversão da pergunta é significativa, porque o especialista da Lei é obrigado a responder que um vil samaritano é o próximo de um judeu assaltado. Para todos nós, isso significa: eu sou próximo de quem encontro no meu caminho, sou chamado a ser solidário com ele, a me tornar próximo dele. Gostamos de escolher nossos próximos. Na perspectiva de Jesus, porém, somos próximos de quem encontramos. Deus nos colocou perto deles para os tratarmos com o mesmo amor gratuito que ele nos dedica. Neste sentido, o próximo, “aquele que se comiserou do homem”, é Deus mesmo. Portanto, “Vai e faze a mesma coisa”, e já não precisarás perguntar quem é teu próximo, porque desde já estarás vivendo a vida de Deus mesmo.
3. A parábola insere o ouvinte numa situação prática, existencial e não teórica: na prática, afastamo-nos do necessitado (ainda que pertença à nossa comunidade!) e não “nos aproximamos” dele. Tornar-se próximo é ser solidário. “Vai e faze a mesma coisa”. Imitar o samaritano exige solidariedade, assumir a vida do outro, não livrar-se dele. Torná-lo um irmão, pois esse é o sentido verdadeiro da palavra “próximo”. Ora, como fica, então, essa solidariedade neste tempo em que a doutrina da competição, do lucro e do proveito ilimitado solapou o tecido social, as relações de gratuidade entre as pessoas?
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.