FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ
28 de dezembro de 2025
Leituras: Eclo 3,3-7.14-17a / Cl 3,12-21 / Mt 2,13-15.19-23
Família: as lições de Nazaré
O Natal é, por excelência, a festa da família. Prova disso são as tantas tradições e costumes expressos no hábito de se reunir todos da família para as refeições festivas e para os bons votos e troca dos dons. Jesus quis nascer e crescer integrado numa família humana; teve a Virgem Maria como mãe e José que lhe fez de pai; eles O educaram com imenso amor. A família de Jesus merece realmente o título de “santa”, porque está totalmente absorvida pelo desejo de cumprir a Vontade de Deus, encarnada na adorável Presença de Jesus. Por um lado, é uma família como todas e, como tal, é modelo de amor conjugal, de colaboração, sacrifício, entrega à divina Providência, laboriosidade e solidariedade, em suma, de todos aqueles valores que a família guarda e promove, contribuindo, de modo primordial, para formar o tecido de cada sociedade. Por outro lado, a Família de Nazaré é única, diferente de todas, pela sua singular vocação ligada à missão do Filho de Deus. Precisamente, com esta sua unicidade, ela indica a cada família, sobretudo às cristãs, o horizonte de Deus, a primazia doce e exigente da sua Vontade, a perspectiva do Céu para o qual somos destinados.
Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia a dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes. Experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados. Se no Natal as famílias são convidadas a contemplar o Menino com sua Mãe, a prostrar-se e adorá-lo, como Maria, são exortadas a viver, com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus. No tesouro do coração de Maria, estão também todos os acontecimentos de cada uma das nossas famílias, que ela guarda solicitamente.
Enquanto a Primeira Leitura lembra aos filhos, como cumprimento da vontade de Deus, o dever de honrarem pai e mãe, de ter respeito e dedicação para com eles, de socorrê-los e compadecer-se deles na velhice, São Paulo, na Segunda Leitura, enumera as virtudes que devem reinar na família: suportar-se uns aos outros com amor, perdoar-se mutuamente, revestir-se de caridade e ser agradecidos. Se a família não estiver alicerçada no amor cristão, será muito difícil a sua perseverança em harmonia e unidade de corações. Quando esse amor existe, tudo se supera, tudo se aceita; mas, se falta esse amor mútuo, tudo se faz sumamente pesado. E o único amor que perdura, não obstante os possíveis contrastes no seio da família, é aquele que tem o seu fundamento no amor de Deus.
O texto do Evangelho se inicia com a aparição de um mensageiro a José, o que pode ser interpretado como a presença de Deus junto a Jesus e sua proteção sobre ele nos momentos de maior perigo e dificuldade. O mensageiro ordena que José fuja para o Egito com Maria e com Jesus, pois Herodes deseja matar o menino. O interessante é que, se o Egito era visto como o lugar da escravidão e da opressão, em Mateus ele constitui o lugar de refúgio para Jesus, que assim escapa do projeto opressor de Herodes. A finalidade da fuga expressa a dura realidade de Jerusalém: paradoxalmente, a terra da promessa, escolhida por Deus, tornou-se lugar da opressão, da morte, totalmente contrário aos planos divinos, ao projeto messiânico.
Mateus retrata a total docilidade de José, que sem demora realiza o que lhe foi confiado por Deus, sendo totalmente obediente à vontade divina. O amor maternal de Deus para com Jesus indica que seu retorno do Egito para a terra prometida deve ser relido como um novo êxodo. Após a morte do opressor, surge a oportunidade de voltar a Israel, revivendo a esperança experimentada no êxodo e no retorno do exílio. Esse dado sinaliza que Jesus será aquele que libertará o povo, sempre anunciando um novo começo, uma restauração, que não irá acontecer nos grandes centros do poder religioso, político e social, na Judeia, mas sim na periferia, a começar de uma cidade insignificante. Essa escolha indica que faz parte do plano de Deus começar a libertação pela periferia: Nazaré.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.

