FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
14 de setembro de 2025
Leituras: Nm 21,4b-9/Fl 2,6-11 /Jo 3,13-17
Salvos pela Cruz
A expressão “exaltação da cruz” deve ser corretamente compreendida para se evitar mal entendidos. Erraria quem a interpretasse como uma apologia do sofrimento, privando-a do contexto em que se deu na vida de Jesus.
A Cruz salvadora de Cristo
Para os judeus, a cruz não era apenas humilhação e tortura, mas maldição. No Cristianismo ela se converte em símbolo para o seguimento de Jesus. Essa mudança radical no significado da cruz somente foi possível porque a cruz se tornou o modo concreto de Jesus demonstrar com que intensidade Deus amou o mundo. Em vez da tirania e da opressão de uns sobre os outros, a vitória da cruz não é outra senão aquela do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, do abaixamento e do serviço. A atitude de Jesus na cruz é contrária à atitude do império romano e dos demais condenados por rebelião contra o dominador político. Estes estavam dominados pelo ódio; Jesus, pelo amor ao extremo. A fidelidade de Jesus ao Pai e seu ato de confiança ilimitada no Deus de Israel superam toda rebeldia e orgulho da criatura na tentativa de suplantar o Criador. Na cruz se mostra a fidelidade e o amor de Deus ao ser humano, de modo que nem mesmo a morte terrível de seu Filho amado impediu a efetivação desse amor. Jesus suspenso na cruz é, ao mesmo tempo, o sinal do amor extremo de Deus pela humanidade e do amor humano na fidelidade a Deus. Eis a vitória da cruz.
A Cruz como sinal
Em várias civilizações antigas, a serpente era adorada como símbolo da vida, da fecundidade (Canaã) e da sabedoria (Egito). Por isso é símbolo da Medicina hoje. Estudiosos consideram o relato da serpente no deserto como tentativa de explicar a presença de uma serpente de bronze que tinha se tornado objeto de culto no templo de Jerusalém, até a época da reforma religiosa efetivada pelo rei Ezequias. Durante a peregrinação no deserto, os hebreus ficaram impacientes por causa da rota difícil e indireta para a terra da promessa e se rebelaram. Como consequência, foram mordidos por serpentes ardentes. Arrependidos, clamaram ao Senhor, que ordenou a Moisés o uso da serpente de bronze para que fossem curados. (Era senso comum representar numa imagem o causador de um dano, pois. acreditava-se que, ao tê-lo em imagem diante dos olhos, o ser humano poderia controlá-lo). Observe-se que o eixo no qual o episódio se move é a confissão dos pecados (“todos pecamos!”) e a resposta misericordiosa do próprio Deus, que salva-os da morte mediante um símbolo que prefigurava o Redentor definitivo do pecado e da morte, Jesus Cristo.
A Cruz no cristianismo
Jesus relembra o episódio acima para mostrar o paradoxo da cruz: sinal de nossa salvação por causa do amor de Deus para conosco. Em ambos os casos (Moisés e Jesus), o ser humano está sob uma sentença de morte como consequência do pecado (transgressão da Lei) e Deus, juiz misericordioso, provê o meio de libertação dessa sentença para que o ser humano receba a vida e não a morte. Deus não nos trata conforme nossos pecados nos fazem merecedores. Ao relacionar o ato de Moisés com o seu, pelo qual oferta a vida na cruz, Jesus não estabelece comparação entre si próprio e a serpente, mas ressalta a libertação que se realizou em ambas as situações por meio de uma elevação.
Significa que a exaltação de Cristo é a condição para a introdução do ser humano na “casa do Pai”, no âmbito celeste. Nesta elevação/ascensão é que o ser humano passa a ter a vida em Cristo. A vida eterna se inicia já neste mundo para aquele que se decidiu por Cristo e fez adesão da própria vida àquela oferta realizada na cruz. Jesus, elevado na cruz, aparece vencedor da morte e doador da vida para todos os que creem nele e se associam à sua oferta de vida ao Pai. Portanto, na cruz de Cristo se enfatiza a gratuidade do amor do Pai, que chega ao extremo. É o Pai quem oferece a salvação ao ser humano; esse convite continua aberto, esperando o “sim” de cada um, até que Cristo venha!!!
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.