NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO
24 de novembro de 2024
Leituras: Dn 7,13-14 / Ap 1,5-8 / Jo 18,33b-372
O seu Reino não é deste mundo… e é para sempre!
A segunda leitura de hoje apresenta Jesus como o Senhor do tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas. Proclama diante do mundo que somente Cristo é o sentido último de tudo e de todos, que somente Cristo é definitivo e absoluto.
Neste último domingo do ano litúrgico, nos perguntamos: Estará a humanidade, irremediavelmente, condenada a viver sob o domínio da injustiça e da opressão? Nunca nos libertaremos desse ciclo de morte? Deus assiste, indiferente e de braços cruzados, a esta dinâmica de violência e violação dos direitos mais elementares dos povos e das nações?
O autor do Livro de Daniel acredita que o reino do mal não será eterno e que Deus intervém na história para destruir essas forças de morte que impedem os homens de alcançar a liberdade, a paz, a vida plena. Numa época em que os imperialismos, os fundamentalismos, os colonialismos e os conservadorismos, a cegueira dos líderes das nações poderosas multiplicam o sofrimento de tantos homens e mulheres, Daniel convida-nos à esperança e à confiança: Deus saberá derrubar todos os poderes humanos que impedem a realização plena do homem. O anúncio de um “filho de homem” que virá “sobre as nuvens” para instaurar um reino que “não será destruído” leva-nos a Jesus. Ele veio ao encontro dos homens para lhes propor uma nova ordem, em que os pobres, os débeis, os fracos, os marginalizados, aqueles que não podem fazer ouvir a sua voz nos grandes areópagos internacionais não mais serão humilhados e espezinhados. Jesus introduziu na história uma nova lógica, substituindo a lógica do orgulho e do egoísmo por uma lógica de amor, serviço, doação. É verdade que, mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus, esse reino ainda não se tornou uma realidade plena na nossa história.
Mas como Jesus pode ser Rei, num mundo paganizado, pós-cristão, que esqueceu Deus, num mundo que ridiculariza a Igreja por pregar o Evangelho e suas exigências? Como pode ser Rei de um mundo que não aceita ser o seu reinado? Assistindo, impressionados, a descristianização do mundo, nos perguntamos: onde está a realeza do Cristo? Ora, onde sempre esteve: na cruz! “O meu reino não é deste mundo”.
Num quadro dramático, São João apresenta-nos Jesus assumindo a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela que a realeza reivindicada por Jesus não se assenta em esquemas de ambição, poder, autoridade e violência, como acontece com os reis da terra. Sua missão “real” é dar “testemunho da verdade” e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.
Ele é Rei não porque é prepotente e manda em tudo, até suprimir nossa liberdade e consciência. É Rei porque nos ama, porque se fez um de nós, porque por nós sofreu, morreu e ressuscitou: Rei porque nos dá a vida.
Ele é Rei não porque se distancia de nós, mas precisamente porque se fez “Filho do homem”, solidário conosco em tudo. Experimentou nossas pobrezas e limitações; caminhou pelas nossas estradas, derramou o nosso suor, angustiou-se com nossas angústias e experimentou tantos dos nossos medos. Ele morreu como nós, de morte humana, tão igual à nossa. Ele reina pela solidariedade.
Ele é Rei porque nos serviu com toda a sua existência, dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós. Ele reina pelo amor. Ele é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através dele e para ele”; tudo caminha para ele e, nele, tudo aparecerá na sua verdade: “Quem é da verdade, ouve a minha voz”. É nele que o mundo será julgado. A televisão, os modismos, os sabichões de plantão podem dizer o que quiserem, ensinarem a verdade que lhes forem conveniente, mas, ao final, somente o que passar pelo teste de cruz do Senhor resistirá. O resto não passa de palha. Ele reina pela verdade.
Ele é Rei porque é o único que pode garantir nossa vida; pode fazer-nos felizes agora e pode nos dar a vitória sobre a morte por toda a eternidade: Ele reina pela vida.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2024
O tema da CF 2024, “A Fraternidade e a Amizade Social”, tem por lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (MT 23,8). Considerando as situações existenciais, sociais, políticas, econômicas e estruturais do Brasil, com suas regiões e multifaces eclesiais tão diversas, com marcas de polarizações religiosas, políticas, geográficas e culturais, a Igreja, como Mãe e Mestra, vem trazer uma proposta, à luz da “Alegria do Evangelho”, de conversão ao Outro, como imagem amada e querida pelo Criador, a fim de que a “Fraternidade Universal” seja sonhada, desejada, buscada e testemunhada por todos os homens e mulheres de boa vontade.
O objetivo da Campanha é “despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”. A partir desta perspectiva geral, são propostas várias finalidades específicas, com o olhar voltado aos desafios reais que nos interpelam enquanto ‘seres sociais’, chamados à amizade social. Há uma proposta de civilização, que gere a cultura da paz entre os povos, nas relações humanas e no mundo, já que, existem ‘guerras em pedaços’ em tantos lugares e periferias geográficas e existenciais. A Campanha deste ano traz consigo “o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço, nos interpela à comunhão e solidariedade, mostrando que a conversão passa pela experiência da humildade, da aceitação do outro e da alegria do encontro que vem da ressurreição. A proposta da fraternidade para o cristianismo tem o amor Ágape na sua base, cuja fonte é o amor de Deus. A temática abordada é uma proposta de humanismo solidário e de realização da existência humana. Não é o ódio que leva o ser humano à felicidade; mas é no amor que a sua vida ganha sentido e plenitude. Num mundo marcado por tantos sinais de violências, simbólicas, físicas e digitais, a chamada de atenção que a Igreja promove é uma ação necessária, que está em consonância com a sua missão de ‘perita em humanidade’ (Paulo VI).
A fraternidade e a amizade social, neste momento crítico da história, em que há um pipocar de conflitos mundiais, como frequentemente denuncia o Papa Francisco, passa a ser um ‘projeto civilizatório’. A humanidade padece de paz. Em muitos recantos do globo há nações que vivem em estado de beligerância. O lucro com a venda de armas é uma questão ética, que nos diz muito sobre a preponderância do poder econômico sobre a dignidade da pessoa humana. Essa, por sinal, desde os ultrajes da segunda guerra mundial, tem sido cada vez mais violentada, tendo como objetos os seres humanos em situação de vulnerabilidade. Cabe destacar o fomento da cultura do descarte, que coloca os idosos e embriões concebidos em situação de cancelamento e abandono. O patrocínio dos países sempre mais ricos à custa da promoção da colonização ideológica e política de outras nações é algo que clama aos céus.
A Doutrina Social da Igreja, com seus princípios basilares, dentre eles o da subsidiariedade, conclama para que haja, ao invés do usufruto parasitário, o apoio das potências econômicas e militares, com logística e educação, aos países mais pobres. Sempre atenta aos sinais dos tempos, com os desafios culturais e estruturais para a consecução da paz, ela atualiza a sua proposta de promoção da amizade social. Com esse intento, ela torna audível que é fundamental que a política contemporânea retome essa base de sustentação das relações humanas e entre os povos. Essa é a “melhor política”. Assim como a igualdade e a solidariedade, que nas construções das narrativas liberais foram mais desenvolvidas, a temática da fraternidade também precisa ser levada a bom termo e consecução.
No cristianismo, o tema da fraternidade entre todos os que são criados à imagem e semelhança de Deus é uma norma fundante. Quem é de Deus, ama o semelhante. Os ensinamentos de como ‘ser cristão’ são sintetizados evangelicamente por Jesus Cristo no seu “Sermão da Montanha“. Matar em nome da religião, ou pior, promover a guerra e a destruição do Outro em nome de Deus é contraditório com a proposta da fé cristã. No Brasil, a manipulação política e ideológica do imperativo religioso tem sido constantemente assumida por lideranças que usam a boa fé de milhões de cidadãos para o acirramento do ódio e o incitamento do caos psicológico e social.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.