ASCENSÃO DO SENHOR
1º de junho de 2025
Leituras: At 1,1-11 / Ef 1,17-23 / Lc 24,46-53
Jesus abençoa os discípulos para a Missão
Os relatos da ascensão do Senhor não querem indicar o seu afastamento deste mundo, mas revelar plenamente quem é Jesus: o Messias sofredor que é glorificado. Revelam também que a missão de Jesus deve ser continuada pelos seus discípulos. Tanto no final do Evangelho de Lucas como no começo do livro de Atos, também de sua autoria, consta o relato da ascensão de Jesus, de formas diferentes. No Evangelho, percebemos que todos os fatos acontecidos após a morte de Jesus se realizam no mesmo dia. Em Atos, Jesus ressuscitado permanece 40 dias entre seus discípulos, ensinando-lhes coisas referentes ao Reino de Deus.
Teologicamente, o tempo de 1 ou de 40 dias tem o mesmo significado: é o tempo propício concedido aos discípulos para serem testemunhas qualificadas de Jesus Cristo ressuscitado. Esse testemunho inaugura um novo tempo e deverá ser irradiado para o mundo inteiro. Para essa missão, eles precisam ser preparados. Lucas enfatiza, então, a preocupação de Jesus em “abrir a mente” dos discípulos a fim de que entendam as Escrituras, como já fizera no episódio dos dois discípulos a caminho de Emaús. Parece insistir na necessidade de uma retomada dos textos do Antigo Testamento à luz do evento Jesus de Nazaré. Assim, tudo ficará esclarecido a respeito do Messias, o Salvador. De fato, entre os apóstolos e as comunidades cristãs, o processo de entendimento da pessoa de Jesus e de adesão profunda ao seu projeto não foi tão tranquilo como se pode pensar. É o que se percebe pelas reações dos discípulos diante das aparições de Jesus ressuscitado: os de Emaús caminham um longo trecho sem reconhecê-lo, pois eram “lentos de coração para crer no que os profetas anunciaram”; ao apresentar-se aos onze, desejando-lhes a paz, eles ficaram “tomados de espanto e temor, imaginando que fosse um espírito”, além de “perturbados e cheios de dúvidas em seus corações”, a ponto de Jesus insistir para que o apalpassem e entendessem.
Diante dessas dificuldades, Jesus lhes promete a Força do Alto, o Espírito Santo. Enquanto isso não acontece, pede-lhes que permaneçam em Jerusalém, pois aí se deu o acontecimento salvador mediante a morte e ressurreição de Jesus. É a partir desse espaço que a proclamação do arrependimento e da remissão dos pecados atingirá o mundo inteiro: é a boa notícia da salvação oferecida a toda a humanidade. Lucas, porém, distingue a Jerusalém teológica da cidade em seu sentido político-econômico, com suas instituições opressoras, tirando-os dessa cidade e os levando a Betânia (lembrando o êxodo do povo de Israel, tirado da escravidão do Egito). É em Betânia que Ele os abençoa enquanto se eleva ao céu. As pessoas aí abençoadas tornar-se-ão portadoras da bênção divina a todos os povos.
Para a narrativa da ascensão em Atos, Lucas inspira-se no arrebatamento de Elias aos céus. Eliseu, discípulo de Elias, por testemunhar o arrebatamento do seu mestre, recebe “dupla porção” do seu espírito e torna-se o continuador da missão profética; como testemunhas oculares da ascensão de Jesus, seus discípulos receberão o Espírito Santo para continuar a sua obra. Os dois homens vestidos de branco, que no Evangelho anunciaram às mulheres a ressurreição de Jesus, recordando-lhes as palavras por ele ditas, aqui, em Atos, recordam aos discípulos a verdade da ascensão.
A Carta aos Efésios apresenta a figura de Jesus glorioso como aquele que tem a soberania sobre toda a criação e está acima de toda autoridade e de todo poder. Mas o discernimento da verdade a respeito de Jesus traz consigo a verdade sobre a Igreja: formamos o Corpo Místico, cuja cabeça é Cristo, numa união vital, pois, sem a cabeça, não existe corpo e não existe vida. Ter essa consciência implica: cuidar uns dos outros com muito carinho e respeito; responsabilizar-se pela promoção da vida, dando prioridade aos membros que sofrem; acolher os que são diferentes, sem julgamentos superficiais, mas exercitando o diálogo e a mútua compreensão, num verdadeiro exercício da divina Misericórdia.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.