30º DOMINGO COMUM
26 de outubro de 2025
Leituras: Eclo 35,15b-17.20-22a / 2 Tm 4,6-8.16-18 / Lc 18,9-14
O problema não é ser pecador… é viver fora da Misericórdia
Engana-se completamente o fariseu de quem Jesus fala no evangelho: acha que pode impressionar Deus com suas qualidades aparentes, seus sacrifícios e boas obras puramente formais, sem extirpar de seu coração o orgulho e o desprezo pelos outros. São como os “bons cristãos” de hoje usurpam a religião para se convencer a si mesmos e aos outros de sua justiça; desprezam os outros e querem negociar com Deus na base de suas “boas obras”. Porém, é a atitude contrária que encontra aceitação junto a Deus: a humilde confissão de ser pecador. Quem já se declarou justo a si mesmo não mais pode ser justificado por Deus. O publicano, que reza de coração contrito, se reconhece pecador e se confia à misericórdia de Deus, este é considerado justo e volta para casa “justificado”.
Mais profunda ainda é a lição propriamente teológica, refrão da teologia de S. Paulo: quem se declara justo a si mesmo com base em suas obras rituais – como faziam os fariseus, convencidos de que a observância da Lei lhes dava “direitos” perante Deus – não é declarado justo por Deus, pois Deus é “inegociável” e declara alguém justo com base na sua misericórdia e amor gratuitos. A justificação é de graça, para quem entra na órbita do amor de Deus, pondo-lhe nas mãos a vida inteira, com pecados e fraquezas. A rejeição moralista dos pecadores é anticristã e contradiz o espírito da Igreja, que oferece o sacramento da penitência para marcar com sua garantia o pedido de reconciliação do pecador penitente.
Diante de Deus, todos ficamos devendo. Os que se justificam a si mesmos, além de serem orgulhosos, são pouco lúcidos! Portanto, melhor é apresentarmo-nos a Deus conscientes de lhe estar devendo, e pedir que nos perdoe e nos dê novas chances de viver diante de sua face, pois sabemos que Deus não quer a morte do pecador, mas sim que ele se converta e viva. Para afastar a auto-suficiência é preciso, antes, outra coisa: a consciência de sermos pecadores. Ora, isso se torna cada vez mais difícil na atual civilização da “sem-vergonhice”. O ambiente em que vivemos trata de esconder a culpabilidade e, inclusive, condena-a como desvio psicológico.
Que a culpabilidade neurótica passe do confessionário para o divã do psicanalista é coisa boa, mas não convém encobrir o pecado real. Tal encobrimento do pecado acontece tanto no nível do indivíduo quanto no da sociedade: oficialização de práticas opressoras e exploradoras nas próprias estruturas da sociedade, leis feitas em função de uns poucos etc. Para sermos lúcidos quanto a isso, cabe observar que a auto-justificação entre nós já não acontece ao modo do fariseu, que se gabava das obras da Lei de Moisés. Agora acontece ao modo do executivo eficiente, que tem justificativa para tudo: para as trapaças financeiras, a necessidade da indústria e do desenvolvimento nacional; e para as trapaças na vida pessoal, o estresse e a necessidade de variação. Hoje, já não são os fariseus que se auto-justificam, mas os novos publicanos, que dizem: “Graças a Deus eu sou autêntico, eu não escondo o que faço, não sou um fariseu hipócrita como aquele “catolicão” ali na frente do altar”! Seja como for, saber-se pecador é o início da salvação. Isso vale para todos, ricos e pobres, mas para os pobres é mais fácil, porque estão em dívida com tantas coisas que se dão mais facilmente conta de serem devedores.
O mais importante na avaliação geral de nossa vida não é o número e o tamanho de nossos pecados, mas nossa amizade com Deus. Como no caso do fariseu e da pecadora, alguém pode ter pouco pecado e pouquíssimo amor, e outra pessoa pode ter grandes pecados e imenso amor. Quem nada faz não peca por infração. Só por desamor… e para essa falta não existe remédio. Quem só pensa em si mesmo – como o fariseu –, como Deus pode ser amigo dele? Ora, pecador não é apenas aquele que transgride expressamente a Lei, mas todo aquele que não realiza o bem que Deus lhe confia. Pensando nisso, reconheceremos mais facilmente que temos “dívidas”, como se rezava na versão antiga (e mais literal) do Pai-Nosso. Por isso, a liturgia começa sempre com o Ato Penitencial.
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).
Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.
Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.
Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Fazendo a leitura do Cartaz
O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.
A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.
Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.
A técnica da colagem possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.
A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.

