A luz da Palavra

Palavra de Deus 2

2º DOMINGO DO ADVENTO 

7 de dezembro de 2025
Leituras:  Is 11,1-10 / Rm 15,4-9 / Mt 3,1-12

Acolhei-vos mutuamente

A mensagem que acompanha a vinda de Cristo fala de paz e reconciliação. O profeta Isaias simboliza a salvação apresentando o que se passa entre os inimigos “naturais” que lutam pela sobrevivência. Paulo aponta para os inimigos “culturais” que se opõem por diversidade de religião e ideologia. Neste caso, a salvação significa romper todas as barreiras, sair de si para encontrar os outros, abrir-se para a revelação recíproca, perdoar-se e amar-se como pessoas humanas, filhos de Deus. Assim fez conosco Jesus, respeitando as demoras e as possibilidades de diálogo das pessoas.

Apesar das guerras e divisões atuais, dos desequilíbrios e discriminações, Não é uma utopia, esperar uma humanidade reconciliada, porque a salvação definitiva é obra do Senhor que vem e virá, e pede aos seus amigos que colaborem para que seu plano se torne cada vez mais uma realidade efetiva. O Profeta Isaías (1ª Leitura) anuncia o fim da lei do mais forte, pois o futuro rei e o país inteiro vão defender os fracos. Então as pessoas deixarão de ser bichos umas para as outras. Porque, inspirado no temor do Senhor, o novo rei que virá vai acabar com a estória do lobo e do cordeiro, quando o mais forte sempre tem razão e sempre encontra um motivo para devorar o mais fraco. Assim, “o lobo será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito”. Ele vai usar de sua autoridade para fazer justiça ao fraco e reprimir o opressor, para que todo o país estará inundado do “conhecimento do Senhor”, todos sabendo respeitar os direitos dos fracos.

Para nós, cristãos, Jesus Cristo é o rei “Messias” que veio tornar realidade o sonho do Profeta. Ele iniciou esse “reino” novo. Cheio do Espírito de Deus,  Ele passou pelo mundo convidando os homens a tornarem-se “filhos de Deus” e a viverem no amor, na partilha, no dom da vida. Isto significa aceitar a mensagem de João Batista (Evangelho), que hoje é a da Igreja, do Papa, dos homens mais lúcidos e engajados, que são os profetas do nosso tempo, produzindo furtos de penitência e conversão. Não é possível acolher “aquele que vem” com o coração cheio de egoísmo, orgulho, autossuficiência, preocupação com os bens materiais. É preciso um despojamento de tudo o que rouba espaço ao “Senhor que vem” através de uma mudança de mentalidade, valores, comportamentos, atitudes, palavras.

A figura de João Batista obriga-nos a questionar as nossas prioridades e valores fundamentais. Ele não se apresenta de “smoking” ou gravata e camisa de seda, pois a sua prioridade não é brilhar na festa nem impressionar os chefes ou mostrar que é um homem de sucesso em termos de ganhos anuais. Não petisca pratos delicados com molhos de nomes franceses, pois a sua prioridade não é a satisfação de apetites físicos. Não promete  bem-estar  e riqueza, pois a sua prioridade não é receber aplausos das massas. João é alguém para quem a prioridade é o anúncio do “Reino dos céus”, caracterizado pelo despojamento, simplicidade, amor total, partilha, dom da vida.

Aceitar-nos reciprocamente é um convite que a Igreja dirige, através das palavras de Paulo (2ª Leitura), às nossas comunidades de hoje. O cristão, com muita frequência, considera sua pertença ao povo de Deus como um privilégio que o separa dos demais, uma espécie de marca de qualidade. E se esquece de lutar para que a convivência dos homens, dos blocos ideológicos, das raças e das classes sociais se torne realidade. A Eucaristia proporciona aos cristãos a oportunidade de recusar uma separação entre “fracos” e “fortes”, uma vez que, nesta mesa, o Senhor se oferece por todos. É o vínculo da união: união com os irmãos, união com Deus em Cristo. Nossos encontros com os outros devem ultrapassar os estreitos limites da pura cortesia e da convivência social; do contrário se esvaziará. O relacionamento real (não só as “boas maneiras”) com o outro varia conforme o relacionamento com Deus. Somente na comunidade eclesial, a dos que estão voltados para Deus, é que se pode viver realmente o encontro com os outros, dentro de um mesmo amor.



CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.

Nesta Campanha, a Ecologia reaparece de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.

Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).

Fazendo a leitura do Cartaz

O espírito da Campanha se expressa de maneira condensada no seu cartaz. Em destaque, São Francisco de Assis representa o homem que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão.

A natureza se faz presente na araucária, no ipê amarelo, no igarapé, no mandacaru, na onça pintada e nas araras canindés, que representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação.

Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus.

A técnica da colagem  possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação e fazendo referência. à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso.

A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.